sexta-feira, agosto 01, 2008
Tempestades.
a pensar no que o Tempo faz.
Como passa, porque pára,
como carrega o que traz.
E é Tempo que vem de encontro a mim,
e me carrega para diante,
Tempo veloz que me condena
num marca-passo lacerante.
Limita-me desejos, anseios,
cria em mim amarras ao mundo.
Um Tempo que é sempre de sobra
e rasga momentos ao segundo.
Tempo é o que me puxa,
me atira sem comiseração,
para um vácuo onde esse Tempo,
que todo o Tempo me marca,
deixa de ser Tempo algum,
passa a ser só solidão.
sexta-feira, julho 18, 2008
Sai de casa certa de que o que queres é o que vais ter, força tens tu de sobra.
Olha o céu e não o chão. Marca na calçada o passo certo da determinação que carregas. Não desvies olhares, sorri e sente o peito pleno com o sorriso que volta. Procura pormenores escondidos em coisas pequenas e simples. Aprende o que vale a pena.
Respeita-te. Declara-te tudo o que de bom tens à distância de um olhar alheio ou de uma vontade de mergulho mais fundo em ti. Descobre que é mais do que pensavas. Valoriza-te. Deixa ser o mundo a deitar-te abaixo e seres tu quem te faz erguer. Balança, tropeça, parte. E vê que só contigo consegues erguer a cabeça tão alto como dantes. Os outros só te conseguem mostrar metade do caminho.
Depois, dá. Testa, experimenta, com mistério, com algum pudor. Cativa. Vê quem se te prende e entrega-te. Não deixes por dizer. És mais, não tens o que perder.
Deita fora. Grita. Bate o pé. Chora. Luta e sente invadir-te uma força tão maior do que pensaste ter.
Concretiza. Orgulha-te. Partilha e delicia-te com isso.
Pensa e sente; afina esta díade.
Guarda e não esqueças. E sê inesquecível.
Não apagues, reescreve.
Põe o pé na estrada e desfruta cada passo, cada paragem, cada recuo nela.
Vive o que queres, vive o que podes, vive o muito e o pouco. Vive para alguém, de alguém, mas vive sempre por ti.
Vive por mim.
terça-feira, abril 08, 2008
Seja qual for a paisagem,
O ponto mais fundo que o olhar alcança,
Há sempre uma rocha,
Uma pedra, uma areia que dança.
Tenha-se uma obra qualquer,
Escultura, vitral ou tela,
Que há-de ter sempre nela,
Um traço mais feio,
Uma cor mais escura,
Dura e crua.
De entre quantas este mundo tem,
Haveis de encontrar sempre uma lágrima,
Ou um olho que a retém.
Alegria ou martírio que escondam,
Raiva ou loucura que expressem,
Não há quem,
Por pouco que viva,
Não lhe sinta o sal que tem.
Só por não saber ao que vem.
Que se soubesse, ora era doce,
Ora amarga de desdém.
Multidão num qualquer lugar,
Vede com atenção,
Que vos diz aquele olhar?
A pedra turva ou aguçada,
A cor escura que esconde a alma,
A lágrima a que só o amargo sente
Os olhos de quem está ausente,
Em certos dias são constante,
Noutros, sombra passante,
Mas sempre parte do que ela é.
terça-feira, abril 01, 2008
Quando o brilho me levaste,
Com o meu último fôlego,
Foi-se a força que criaste.
Acabaste.
E eu de olhos fechados,
Cerrados para não ver,
Que metade do meu viver,
Da história que queria escrever,
Eram rascunhos riscados,
Rasgados.
Vesti-me de cinzento,
Quando largámos as mãos.
Vesti-me da cor que não tem definição,
Sem ponta de agitação,
Com a calma de quem já esperava,
Que uma guerra longa e sofrida,
Mesmo quando vencida,
Já não deixa sentir nada.
Sem jeito. Mas já há muito, mesmo muito, que não me saiam sequer dois versos. Decidi pôr.
quinta-feira, março 06, 2008
Medo
É feita de camadas. E cada vez é preciso mais tempo, mais paciência, mais esforço para conseguir penetrá-la por inteiro e conhecer-lhe a verdadeira essência. Toda ela é defesa, zelo. Se pudesse, viveria numa redoma. Mentira. Se pudesse, arrancava-O, O que lhe levanta o peito, origem de um batuque que magoa quando segue descompassado, tanta é a pressa de bater. Não o parava, que ele não para mesmo querendo, embora por vezes pareça que sim. Mas ela sente-lhe a falta, do batuque certo. É música ao ouvido, parte daquilo que é. O batuque. O que quer é salvaguardar-se. É demasiado arritmado para continuar a aguentar.
Está farta de deixar entrar pessoas. Rompem-lhe as camadas, chegam à essência e fogem no momento em que ela se levanta para abrir a redoma, por fim. Mais uma camada. Cada vez é mais difícil lá chegar. Será que se assustam? Não interessa. Basta. Quem chegar, já nem a descobre. Pura, de branco, ondulando como se fizesse parte desse imenso verde-mar. Quer selá-lo de vez. Hermeticamente.
Mas até já dentro da redoma ele bate descompassado ! Quem ousa ? Para quê?
Não acredita que vai cair. 'Nunca mais.'
Ingénua. Hoje e sempre.
domingo, fevereiro 17, 2008
Farsas
Hoje acordei e soube que precisaria do dobro da força para me levantar. Que hoje o dia requeria coragem. Era preciso um sorriso. Então colei-me ao espelho e construi-o. Um sorriso e todo um teatro para que nada me saísse mal. Para que nao transparecesse o estremecimento, a tempestade e o dilúvio interior. Que hoje eu sabia decor o que me esperava. Tinha bem encenadas as máscaras para cada momento. Por cada sentimento, uma farsa. Insegurança, raiva, ciúme, desespero. Fui preparada. Tudo ensaiado e o sorriso pronto para mostrar logo que necessário.
Enganei-me, a princípio. Afinal a ameaça não era tanta. Afinal eu estava à altura do desafio. Afinal consegui rir-me com vontade. Tive-me como salva, pelo menos deste desafio. Gosto efémero.
Nao consigo. Sei o que valho, sei que sou mais. Mas nao sou eu que estou lá. Dói. Revolve-me as entranhas. E o pensamento, com previsões hipotéticas do que fez ou está para fazer.
Chorar? Nao consigo. Hoje nao. Acho que perdi a bomba do peito a caminho de casa e como doeu menos, pesou menos, nem dei conta. Vou ver se o encontro numa berma qualquer amanhã.
Quero um conto de fadas à minha porta. Depressa.
quarta-feira, fevereiro 13, 2008
Quem espera ...
Dizes agora que adoras a forma como te trato e eu digo-te a ti que foi assim que sempre te quis tratar. Tu sabes que sim, que dou por natureza, até demasiado. Não o fiz antes por medo, inseguranças. Cresci imenso contigo, voltei a ter a ingenuidade que tanto me fazia chorar, que tantas marcas me causou, mas de que eu tanto gostava. Quis voltar a dar-me a ti sem restrições, porque o medo já cá não morava. Mas tinhas de abrir o baú outra vez. Estava tão bem escondido, tão bem cerrado. E eu ainda não vejo as sombras a cirandar pelo quarto, mas já as sinto e quase que as ouço, rindo de mim, vão-me consumindo. Não sabes já o que custa fechá-las de novo? E tu pensas que sabes, e eu gostava que sim, mas não sabes ... que cada vez que viras costas a presença delas é maior, que elas me assustam, me esmagam, me fazem querer desistir. e que de cada vez que prometes, mesmo quando mostras mais certezas, elas te comem metade das palavras e não deixam que o sentido chegue a mim.
Não quero ser lembrança, boa ou má, quero ser vivência, presente e futura.
Sou paciente, sei esperar, respeito o difícil, a luta, a prova e o desafio. O que é certo faz-se esperar e é a conquista do que não temos, do que temos de provar merecer que nos torna felizes. É a natureza humana.
Eu luto, cada dia. Coloco mais peso sobre o baú a cada dia, cada dia mais coberto. Luto cada dia para dar alento a um coração que se toma já por condenado porque nunca lutou assim por outro alguém. Luto para ter razão para sorrir durante todo o dia e só à noite deixar que as sombras, os medos me arranquem dos olhos as lágrimas que guardei.
E quando penso nisso parece-me ridículo, parece-me injusto, parece-me que mereço mais. Que tu digas o que queres, faças o que precises para ter o sorriso na cara e o peito cheio enquanto eu me resigno, abaixo a cabeça e me escondo a ouvir as mesmas melodias uma vez, outra e outra ainda. Tenho medo do cansaço, do desgaste de um sentimento que tanto queria viver.
Esperar... mas não quieta, junto ao mar, que ele já me conhece as fraquezas e guarda todo o segredo.. e em frente a ele posso cair que sei que me devolve sempre à praia. Esperar, mas viva, com risos infantis, simplicidades, afectos sem pedir porquê. Esperar. Mas com nuvens de algodão sob os pés, flores emaranhadas nos caracóis, brilho verde nos olhos ... e um mundo simplesmente encantado dentro do coração, para um dia ganhar vida e se deixar viver por nós.
À espera.
segunda-feira, dezembro 03, 2007
Dias...
Há dias em que vontade em mim, há só essa. De resto, tudo é feito por uma força que não conheço e que conheço muito bem, porque já há algum tempo que é visita. E nestes tempos, que se faz da casa.
Sinto não saber o que faço ou porque o faço. E tenho uma angústia de não saber o que fazer, por isso, faço o que me dizem. Sobretudo canso-me de mim, às vezes. Quase que desisto, quase que me deixo ir.
Há dias em que quase tenho força e determinação, dias em que quase digo, dias em que quase mudo alguma coisa.
Mas, quando chega o outro dia, adormeço a força e a determinação, adormeço a vontade e o sonho e fecho tudo num canto de mim. E quando esse dia chega, adormeço o que sou.
terça-feira, julho 10, 2007
Não sei escrever. Conheço palavras, significados, até mesmo outras línguas... E nem isso me basta. Já não sei.
O que sei é que não tenho controlo. De nada. Que me sinto a perder qualquer coisa, alguém. De vez em quando. E que tenho vontade de o contrariar, de falar, de lembrar... De dizer 'ainda te sinto'. Mas não digo. Parece despropositado. Mas sinto. Sinto tanto, de tantas formas, para diferentes gentes. Sinto a quem esteve sempre comigo, a quem não oiço ou leio uma palavra há mais de 2 semanas, a quem afastei e me afastou e agora reencontrei. Até a quem me magoou.
Sinto mas não o lembro. Também a mim não o fazem. Não me sentem assim?
E tenho... Não sei o que tenho, não é medo nem ansiedade. É preocupação. E alheamento. E vontade de voltar atrás. Melhor, de não deixar o futuro vir. Não sei se lhe sobrevivo.
E isto não é nada. Que eu não estou triste. É só um cantinho da mente que trabalha sempre discretamente e de quando em vez discorre para o consciente uma torrente de...coisas.
sexta-feira, maio 11, 2007
Confrontos
Hoje é um dia meio feliz. Hoje, tornei-me renegada, marginalizada, involuntariamente. Hoje, conclui o processo de separação da amálgama de qualquer coisa que me rodeia. Hoje, percebi que consegui(mos) construir um cantinho sagrado, separado, mas puro. Hoje, vi em que é que sou diferente e em que é que os outros são iguais. Hoje, defini quem tenho e quem preciso. Hoje, vi que tenho a sorte de não precisar de mais.
Hoje foi mais um dia ... Bom.
quarta-feira, abril 11, 2007
Episódios
Sexta-feira de sol. Quente, como sempre são em Coimbra, por já ser uma cidade mais do 'enterior'. E talvez pela mesma razão se justifique o episódio que aqui relato.
Dirigi-me a Coimbra com a minha irmã para ir buscar o meu primo que chegava da Covilhã. O próximo comboio ainda tardava, pelo que fomos até à Martim de Freitas visitar a minha prima. Toca para a entrada e nós apanhamos o autocarro para voltar à estação. Calor e gente. Muita gente. E sacos de todo o tamanho e feitio a ocupar aquele espaço em frente à porta central que poderíamos ocupar, pelo que nos juntamos bem à beira da porta. Vou eu a recomendar o meu primo que se afaste quando a porta abrir para não correr riscos quando ela abre e verificamos que não acerta em nenhum de nós. Tanto melhor.
Mas o autocarro ia mesmo cheio. As pessoas que tentam sair, encolhem-se para passar por entre as que estão de pé e, numa das paragens, já com um pé fora outro ainda dentro, há uma senhora avantajada que lança um 'deixem passar..!' desdenhoso. ' É connosco? ' . Pois é. 'Eu até afastava, se tivesse para onde ir' - e reprimo o 'sua gorda' que estava mesmo a pedir para sair. Passou-se. Na paragem seguinte o autocarro apresentava-se tão ou mais cheio. Calor. Dor de cabeça. 'Farta de aqui estar, mas isto tem mesmo de parar em todas?'. Já só faltavam 4 ou 5 paragens, mas estava-se mesmo a ver que tinha de me chatear com alguma coisa. As pessoas começam a sair, comprimimo-nos ao vidro que nos separa dos lugares sentados, mas há um senhor simpático que do alto dos seus 70 anos e do fundo do umbigo em que já nem consegue pôr os olhos diz, curiosamente também já quase com um pé de fora e, coincidência das coincidências, com igual ou maior desdém 'vão lá p'ra marmelada para outro sítio!'. (...). 'Quê, mas era para nós, Gonçalo?' . Ele ri. 'Marmelada? Eu dizia-lhe já que não sou afincadamente apologista de meios encestos...' - digo para o chão, entre-dentes. A coisa estava montada. Começo a ouvir uns comentários de umas senhoras de 50 anos para cima, para não destoar, bem constituídas, que já tinham o caso como novela mexicana. 'Deixe-os la', home', que estão na idade!'. Fecha-se a porta. Dou a coisa por terminada, de olhos cerrados, tal era a paciência. 'Não liguem, filhos, tomara eu ter feito o mesmo! Tomara eu ter a vossa idade!'. 'Mas o que é que eu tenho a ver com isso?' - digo para o meu primo. Ele ri. 'Era o que me faltava agora!Que paciência...!Oh, gentinha...é por isso é que este país me...oh, que gente!'. E ele ria. E eu ria também...de nervoso. E ela tinha apoiantes que diziam 'sim, sim...' e ela ainda dizia 'ora essa..!'.
Mas quê, eu vou a falar com um rapaz de olhos postos no chão para não ter de olhar para a gente que me rodeia, comprimida contra um vidro, e há alguém que vê 'marmelada' nisto? Pois se fosse fruta, esmagada já estava..(!) mas sendo gente...
É que apontam o dedo ainda mais depressa que a gentinha adolescente...!
Mas eu gosto...destas viagens ao 'Portugal profundo'.
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PS: E eu só não me enervei mais porque pensava 'esta vai já para o blog...'
sexta-feira, março 09, 2007
(A)Fluências
É do pressuposto que devem partir. Quero porque quero escrever, mas ... sem rumo. Pelo que deixo fluir...
E já que escrevo 'sem rumo', ocorre-me que é um pouco assim que ando. Também tenho deixado fluir. Como se, de um dia para o outro, alguém me pegasse na mão e a fizesse escrever a minha história, sem vontade própria. Faço-me entender? E, no entanto, não é que seja permanente, posso acordar bem e abrir portas a um mundo paralelo à tarde, ficando com o olhar baço e longínquo para o lado de cá.
Suspiros. Cansaço. E o não saber de quê? E sabê-lo, no fundo. E a desilusão? Essa persegue-me. Em tempos por ter medo de desiludir, noutros por ser desiludida. E pensar que é em mim que cai o erro? Não são as minhas fasquias para os outros demasiado altas? Será que eu mesma as passo? Mas eu sei que há quem passe...porque não?
Mudei. Não sei quando foi! Não dei por isso, posso jurá-lo. Ou descortinei um pouco mais de mim, quem sabe. Sei-me agora capaz de castigar, de amargurar. E, no entanto, sei-me tão idiota, tão ingénua como sempre. Sei agora que ingenuidade não é virtude. Já não gosto dela. Não gosto de ingenuidade aliada a bondade. Ainda menos quando se dirigem a quem nem uma nem outra merece.
Parece enigma? Todos somos. Mas tem-se mostrado entediante, o meu. Ainda mais os dos que me rondam. Muitos já nem enigmas têm. Segredos, talvez...tão negros ou tão rídiculos que melhor me faz não os saber.
Impulsos. Tornei-me impulsiva. Já era, talvez, um pouco. Agora sou extremamente. Não gosto do constante arrependimento que deles provém.
Há dias em que apetece fechar os olhos, adormecer por tempo determinado e, ainda assim, em quantidade razoável. Outros há em que apetece ver o mar. O mar preenche-me. Hoje fui ver o mar, e 15 minutos sentada em frente dele purificam como poucas coisas conseguem.
Que é que estou a escrever? Página de diário? Que horror !
Perco-me, escondo-me, fico só...só eu e música, que já é pedaço de mim. Afasto-me, mas reticente. Afasto, para voltar a seguir, porque não sou capaz. E às vezes tenho medo, porque...não quero entrar num ciclo que não consigo parar. E bater com a cabeça constantemente pelas mesmas razões. O coração aperta a olhos vistos.
Como é que se foge?
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Coisas interessantes? Quem é que me ajuda com as preparações para a universidade? Nunca vi coisa mais mal organizada...E dizem de boca cheia que no site está tudo muito explícito? Haja paciência!
PS: Gostei da manifestação dos brasileiros à presença do Bush por lá.Gostei! Confesso que ele pode dizer a frase mais inteligente do mundo que eu vou estar a olhar com cara de enjoada para a tv. Não sei. É a voz, a figura, a américa que ele representa. É o Bush! The guy makes me sick.
PS2: Quando é que as allstars passam de moda para eu poder proceder à aquisição de umas?
As minhas mais sinceras desculpas pelo post mais oco de sempre.
sábado, fevereiro 10, 2007
Hipocrisias - parte I
Casamento. Não, minha gente, não terei a ousadia de afirmar que o casamento é, por si só, um acto hipócrita. Até porque não o penso. Sim, para mim é um papel que não há necessidade de ser assinado, para outros será algo mais e respeito-o. Talvez eu mesma venha a mudar de ideias.
Casamento na igreja. Sabeis já do que falo? Pois passo a explicar, o casamento na igreja, hoje em dia, é regra, já não se fazem casamentos no civil, melhor dizendo, só no civil. Porquê? Ora, porque é muito mais requintado, muito mais chamativo, muito mais exibicionista. Enfim...c'est trés chic! E é aí mesmo que mora a hipocrisia. Nestes 'católicos não praticantes' que só praticam a religião no dia do casamento. Porque é bonito.
É-se católico porque se acredita em alguma coisa, ou até nem se acredita, mas fica bem. Ou dá jeito para o dia o casamento. Ou como nos casámos pela igreja, é sinal de que somos católicos. Mas praticantes não que dá muito trabalho. No domingo sabe bem ficar na cama e, de qualquer forma, para ir à igreja dormir a ouvir o sermão...não, para isso não. Sou católico não praticante, até está na moda.
Está bem, a festa é bonitinha. Que bom que é ter a família reunida e poder usar um lindo vestido com uma cauda de dois metros ou um belo fato com botão de rosa branco no bolso. Mas é um dia. E é um dia que supostamente devia ser pleno de sinceridade, de sentimento. É de mim, ou a hipocrisia destoa um pouco neste quadro?
Aproveitando a leitura do comentário do Zé, introduzo aqui, ainda dentro do tema, a questão do branco do vestido, de que me esqueci. Eu sei que esta sociedade se rege por fachadas, por aparências. Mas, havemos de convir que, à partida, a humanidade tende a progredir, a evoluir, ou não? Não é que seja sinal de evolução mas 'mudam-se as vontades, mudam-se os gostos' (troca propositada). Se não se aguenta a vontade de pôr a pureza e a castidade de lado, então trocam-se os gostos pela cor, troque-se o branco pelo rosa, pelo salmão, pelo que quiserem. Pelo vermelho, já que há gente a casar pela igreja que já tem um currículo invejável. Perdão, vermelho não. Vermelho é cor de paixão ardente, de pecado. E quem entra numa igreja para consumar um sentimento na presença do Pai, está limpo de pecados. Na presença do Pai que negam e ignoram todos os dias da sua vida.
Ah, e já agora, porque não escrever outro discurso? É que o 'promete amá-la e respeitá-la todos os dias da sua vida, até que a morte os separe' está um pouco demodé, não? Ou então sou eu que não estou a par dos avanços da ciência e, afinal, já se deslindou o fenómeno da ressurreição.
Peço desde já desculpas aos que pretendem casar pela igreja e até nem vão à missa.
Aprendei - é o karma. O meu é este, entre outros : falar, falar e acabar por ter de deixar uma nota aos que pertencem à outra margem, para que não se firam susceptibilidades. Ou talvez deixe de o fazer que no fantástico mundo da internet ainda não consta lápis azul. Vai havendo é alguma falta dele. Mas isso é assunto para outro post.
Pensamento do dia : 'Karma is the way of the universe to settle the score' @ Daniel, Laura, Liliana, Zé.
quarta-feira, dezembro 27, 2006
Inglesation
Cheguei hoje da Covilhã. Sim, o Natal foi bom. Não, não houve muitas prendas como de costume. Só ganho com isso. Não vou dar 'lições de moral' como alguém me disse à pouco. Não vou dizer 'passei um óptimo Natal com aqueles que pouco vejo, infelizmente, e isso chega-me'. Tão pouco que acho fatalmente engraçado que se pergunte 'Então o Natal? Muitas prendinhas?' em vez de 'Entao o Natal? Foi divertido? Muita alegria?' ou apenas...não sei, prendas é que não se faz favor. Mas não falo disso.
Em 3 dias é a quarta ou quinta vez que abro o blogger para postar. Pelo menos já escrevo...à partida desta é que é.
Pois bem, venho reclamar. Senti-me 'mal' ao escrever esta afirmação. Há pouco tempo disseram-me que eu passo a vida a criticar, que é incrível como tenho sempre o que apontar, que não me calo com estas coisas. Não sei se foi dito como apresentação de um defeito se apenas por comentário. Mas surpreendeu-me. Folgo, então, apenas, em saber que , de qualquer maneira, não é só aos outros ou às coisas dos outros que aponto, é também a mim e às minhas coisas. Penso que já me permite uma maior...'justiça', se assim se pode dizer.
Vamos então?
Já repararam com certeza que nesta 'quadra' as lojas são todas engalanadas a preceito. Já repararam também que, além da eventual decoração interior, o verdadeiro 'chamamento' está na montra, essencialmente no vidro, pois é lá que se encontra o desejo de festas felizes para os consumidores. Confere?
Ora bem, o que se passa é que, se atentarem nas palavras que se encontram nessas mesmas montras, que saltam aos olhos de qualquer um, haveis de reparar que as 'saudações' se encontram escritas de maneira ilegível. Passo a explicar: obviamente as palavras são legíveis, o facto é que não o são neste país...ou não o deveriam ser. Para quem ainda não percebeu, os desejos expressos não se encontram em português.
Claro está que mesmo o mais inculto dos portugueses terá já, por um processo de associação, concluído que o afamado 'merry christmas' significa 'feliz natal', pois se são esses os caracteres que ele vê em todo o lado, alguma coisa como isto quererá dizer..!
Enfim, direís vós 'que exagero, esta rapariga...'. Será, por ventura, mas trata-se apenas de um exemplo de algo que sucede em maior escala e de que muito se começa a ouvir falar. Não sou uma defensora afincada da língua portuguesa, de maneira nenhuma. Eu própria uso estrangeirismos, como jovem levada por estas ondas de gente 'in', não leio tanto como devia, bem sei, o meu 6º sentido para a escolha de livros é tão apurado que raramente não me desiludiu. Mas gosto de ouvir falar, aliás, gosto de ouvir falar BEM, muito. Arrisco até dizer que é das poucas coisas de que me orgulho neste país, da língua, perdão, do seu bom uso. E até esse se vai desvanecendo.
Se este país se tornar colónia, ao menos que se torne colónia com dialecto. Mas não torna, descansem, que o português é teimoso...e por mais que de quando em vez deixe escapar o desejo de ser espanhol, o orgulho enche-lhe o peito, a barriga e o resto. Esquecem-se as mágoas com um bom vinho e vê-se um jogo da selecção nacional, para espreitarmos aquilo que temos de bom...e que deixamos fugir lá para fora.
Sim, porque até o mais mísero português tem Sport TV.
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Feed the world
A minha humilde pessoa tem um sonho. Ou um entre outros, como preferirem. Correctamente, um em termos profissionais. Esse sonho é o de ser actriz. Não, não cá...lá. Ambicioso? Certamente, daí ser um sonho, de outra forma chamar-lhe-ia apenas 'objectivo'. Bom, até aqui, nada de novo.
A questão é que, a realizar-se, este sonho servirá dois propósitos, sendo um deles, obviamente, a minha concretização pessoal. O outro faz parte também de uma concretização pessoal mas noutro âmbito. Tenho uma sede imensa de ajudar o mundo. Rídiculo, não? Mas é o que quero. Não que os dois estejam ligados mas, partindo do princípio de que o sonho se realiza a minha 'condição financeira' (por assim dizer) torna-se substancialmente diferente. Não que queira enriquecer, longe de mim. Contudo, se for Actriz, assim mesmo, com maiúscula, penso que o facto é inevitável. E conveniente. A verdade é que, a ser ganho, esse dinheiro tornar-se-ia útil na ajuda aos outros. Gostava de integrar essas organizações humanitárias, gostava de pôr mãos à obra na ajuda a África, gostava...
Talvez seja apenas uma mente de criança, a minha, que sonha. Talvez quem lê isto se esteja a rir da minha ingenuidade. Talvez...
Não tenho vergonha de o confessar e vou manter este sonho sempre. Se não ajudar de uma maneira ajudarei de outra. E sim, orgulho-me de sonhar.
Quero seguir as pisadas de outras gentes da arte e não só, que doam um pouco de si a estas causas.
Deixo-vos então com o vídeo de alguns deles, mesmo que outros só se lembrem destas coisas no natal.
Ponham os olhos neles...o mundo em que vivem é muito maior que o vosso umbigo.
quarta-feira, novembro 22, 2006
In repair
Hoje digo-vos só que pus um penso rápido no coração. Arranharam-no. Mas vai curar depressa, não é caso para alarme. Nem vale a pena chamar o INEM. Aqui para nós que ninguém nos ouve, ele já estava à espera. Eu é que não sabia. Quando o arranharam, parecia que morria, de tanto que se contorcia. Depois é que percebi que não sangrava e, quando olhei melhor, vi que estava protegido. Previu e vestiu uma capa. Estava blindado.
Agora está em reparações. É favor não aproximar demasiado ou, pelo menos, mostrar cartão verde antes de tentar entrar. Ele recupera, mas deixem-no sossegado.
/ John Mayer - In repair
' Too many shadows in my room
Too many hours in this midnight
Too many corners in my mind
So much to do to set my heart right
Oh it's taking so long i could be wrong, i could be ready
Oh but if i take my heart's advice
I should assume it's still unsteady
I am in repair, i am in repair
Stood on the corner for a while
To wait for the wind to blow down on me
Hoping it takes with it my old ways
And brings some brand new look upon me
Oh it's taking so long i could be wrong, i could be ready
Oh but if i take my heart's advice
I should assume it's still unsteady
I am in repair, i am in repair
And now i'm walking in a park
All of the birds they dance below me
Maybe when things turn green again
It will be good to say you know me
Oh it's taking so long i could be wrong, i could be ready
Oh but if i take my heart's advice
I should assume it's still unready
Oh i'm never really ready, i'm never really ready
I'm in repair, i'm not together but i'm getting there
I'm in repair, i'm not together but i'm getting there
E, já agora...partilho convosco que comi lasagna ao jantar...e que me sinto mal...!Tanto bechamel...tanta caloria! Portanto...
/ LiLy Allen - Everything's just wonderful
' Why can't I sleep at night,
Don't say it's gonna be alright,
I wanna be able to eat spaghetti bolognaise,
and not feel bad about it for days and days and days.
In the magazines they talk about weight loss,
If I buy those jeans I can look like Kate Moss,
Oh no it's not the life I chose,
But I guess that's the way that things go '
Exactamente...substituam o 'spaghetti bolognaise' pela lasagna.
Agradecida pelo tempinho.
sábado, novembro 18, 2006
Qualidade dramática nacional
Ora bem, nesse caso, porque é que os senhores e senhoras da produção nacional não se mostram dignos de que os admiremos? Não quer isto dizer que alguns deles(as) não sejam bons actores,nada disso. Mas, das duas três : ou estão mal aproveitados na produção em que estão inseridos, ou a trama é tão fraca que não lhes permite brilhar, ou o restante elenco é tão fraco que não há hipótese. Afinal, se não os podes vencer, junta-te a eles!
Quanto à primeira hipótese, exemplo não falta. 'Floribella'. Diz-vos qualquer coisa, com certeza, ou não fossemos nós assaltados por esse jardim saltitante a toda a hora. Sim , é muito bonitinho para as crianças, afinal, não deixa de ser um conto de fadas mais sério e realista que os dos livros. O que nos aborrece tremendamente é que passe naquele horário. Isso sim é um caso puro de assassinato de uma carreira artística. Não digo que haja lá grandes actores, mas é facto que , ali, ninguém engrandece a sua carreira. Ficam, no mínimo, ridicularizados.
A segunda hipótese não é menos plausível. Prestem atenção à trama nacional, tem duas vertentes possíveis :
1) a base é sempre a mesma
2) é uma cópia distorcida de uma produção brasileira.
Certo, a base da produção brasileira também é a mesma (ricos vs. pobres, bons vs. maus) mas, reparem que, depois disso, abordam problemas reais e alertam. E, quer queiramos quer não, ensinam. E fazem rir. As personagens cómicas brasileiras FAZEM RIR!As portuguesas, no máximo, deixam-nos com uma parelisia facial que resulta no canto da boca hirto na direcção do olho. São fracas .
Quanto à terceira, nada a dizer. Se é facto que, um jovem inteligente tenta aprender com um actor feito, é também facto que o actor perde em entrar em produções com jovens sem talento, com histórias sem interesse.
Enfim, não gosto. Sim, confesso que às vezes vejos os frutos vermelhos, quando não tenho com que me entreter. E confesso também que quase não deixo a minha irmã ver de tanta crítica.
Desde já o meu pedido de desculpas aos visitantes que visionam os dramas desmedidos e desenxabidos (nunca hei-de saber escrever esta palavra) da casa da criação. Ou não fossem estes passados no nosso mais sensacionalista canal de tv. Aliás, Portugal está cheio de gente dramática. Somos ou não somos por generalização, um povo saudista? Então porquê a falta de talento...porquê?!
É que nem uma lágrima são capazes de verter! Caramba, usem um conta gotas! Gemer e gemer, contorcer a cara até dizer 'corta!' , tudo sem uma réstia de água que abra caminho pela face...isso é que não!
Nota: não sou contra os actores portugueses, sou contra os que se acham actores e corrompem e atacam a 7ª arte neste país.
Cai o pano.
terça-feira, novembro 14, 2006
Vai-se vivendo...
' Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor é uma coisa, a vida é outra.O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar.O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.O amor é uma coisa, a vida é outra.A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.Não se pode ceder. Não se pode resistir.A vida é uma coisa, o amor é outra.A vida dura a Vida inteira, o amor não.Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também. '
Isto não é um post do contra? É pois! Contra :
- a futilidade e leviandade com que tratam o Amor;
- o uso do Amor como peneira para encobrir a solidão;
- o uso do Amor para o show off, para os outros, para fazer inveja;
- esta geração, rasca, que não respeita nem sabe o que é este sentimento.
E eu? Talvez também não saiba, mas espero por ele. Ansiosamente.
Enquanto isso, vou olhando os outros e...vai-se vivendo.

PS: mais noções sobre isto? Oiçam 'Não invoquem o Amor em vão' de Rui Veloso e Carlos Tê. É deliciosa.
quinta-feira, novembro 09, 2006
Há dias...
Há dias em que nada vale a pena. Ou assim parece. Ou é a força que falta.
Hoje o meu corpo flutuou de porto em porto, sem ordem ou comando. Foi, por si mesmo. Hoje, fosse qual fosse o estímulo, eu era-lhe indiferente. Não senti frio nem calor, eu era só um corpo...tépido.
Revolta? Não era, não. Antes fosse. Assim, pelo menos, via sentido neste estado. Hoje eu era um ser apático. Hoje eu não era. E se fui, não fui muito, apenas uma coisa, uma sombra de gente, desmaiada. Não foi desespero. Não foi dúvida existencial. Não foi...nada. Porque não há razão para não me sentir, nem corpo, nem alma. Não era tristeza, porque quando assim é, espicaço-a muito e ela cresce em raiva e aí refugiu-me no meu espaço, no meu mundo. Entupo ouvidos,cérebro, corpo e alma de sons fortes, vibrantes, cheios; e esbracejo e ensaio, entrego-me e solto tudo o que sinto.
Hoje não. Hoje passei à frente toda e qualquer música onde houvesse a menor réstia de alegria, de revolta, de necessidade de extravazar qualquer coisa que nem se percebe bem o que é. Hoje sucumbi a toda a melodia grave e mórbida. E nem a senti.
E quando eu não sinto as duas coisas que compoem a essência de mim...
Hoje as pálpebras deviam ter pesado demais e o meu corpo repousado na imitação perfeita da hibernação.
Mas não, sou do contra. Tive de fingir que vivia.

domingo, novembro 05, 2006
Quero escrever e não sei...

...como. Eu que sou so contra, que penso e repenso qualquer coisinha que seja...não tenho assunto para escrever! Tenho o cérebro oco e por mais que grite ' Ideias! ', só consigo ter o eco como resposta.
Podia falar do filme que fui ver ontem, ' Children of men ' ou ' Os filhos do Homem '. E falo, mas não chega.
O filme é realizado por Alfonso Cuáron, o mexicano que realizou o III filme do Harry Potter. Já tinha ouvido falar bem dele (embora confesse que o III do HP seja o último na minha consideração) , por isso queria mesmo ver este.
Children of men trata ou começa por prever o fim do mundo. A acção passa-se em Londres, mas uma Londres destruída, muito mais cinzenta do que o tom a que estamos habituados em, no mínimo ouvir falar. O mundo viu-se assombrado pela infertilidade das mulheres na sua totalidade (as possíveis origens são variadas, sendo uma delas a poluição). A cidade de Londres é o retrato perfeito do que podemos ver nas notícias sobre o Iraque e afins, mas mais negro, mais sujo. Os emigrantes que chegam ao país sao engaiolados, em praça pública e levados para campos de concentração, num dejá vu perfeito do Holocausto.
Mas, como disse, o filme prevê o fim do mundo. Assim, um dos grupos revoltados de 2027 tem, escondida, uma rapariga negra, grávida. A tarefa de a levar até um barco do intitulado ' Human Project ' (que, como o nome indica, pretende proteger a humanidade), do qual, dado o estado de coisas, se duvida a existência.
A partir daqui, Theo (a personagem interpretada por Clive Owen) passa pelos piores momentos com Kee (a grávida) para a levar até ao barco.
É, sem dúvida, um filme que dá que pensar. Se bem que, na minha opinião, 2027 seja um futuro muito próximo para haver tempo para tantas transformações (isto partindo do princípio que os Coreanos acalmaram mesmo a ideia de se porem a fazer ensaios nucleares).
É bem retratada mesquinhez humana, a falta de solidariedade em termos globais, ou seja, de país para país, e dos seus representantes para com o povo. No entanto, quando, no meio de um tiroteio infernal, os dois protagonistas tentam escapar ilesos e com a criança a salvo, tudo pára e todos admiram e abrem caminho para estes passarem (numa verdadeira re-encarnação do nascimento de Jesus Cristo - não querendo isto dizer que a cena não seja bem concebida, é extramente realista) .
Enfim...aconselho vivamente o filme.
E assim se me acaba o assunto.
Ah! Sabieis que as pensões dos políticos vão subir 6,4 % ? Fico realmente feliz por eles, merecem, têm trabalhado tanto...
Pena é que a minha mãe e outros tantos também mereciam qualquer coisita e só lhe aumentam 2 ou 3 cêntimos no subsídio de refeição.