terça-feira, fevereiro 24, 2009

Entra no quarto e enquanto fecha uma porta abre outra. Já que as paredes só têm ouvidos, dentro destas não há testemunhas para esta fraqueza. Esta que não perturba o silêncio que transborda deste quarto, só atinge sonoridades acutilantes na sua cabeça. As paredes têm apenas ouvidos e não olhos, pois se os tivessem denunciariam a incrível rapidez com que se despoja de uma pele que se cola com extraordinária perfeição àquele corpo. Não há ruga ou ponta mal acabada que a acuse de se mostrar quem não é.
Mira ao espelho a pele que sente, sua. Dá-lhe tempo para que respire do sufoco de mais um dia. E logo os poros desta pele, tão perfeitamente impedida de sentir, destilam o medo que outra pele camuflou. Começa então um cortejo, cadência lenta e marcada, de suspiros, delírios, apertos no peito e o que mais se permitir. Gritos abafados de uma falta de sentir.


Já não serve, esta pele. Puxa de um lado, um rasgo no outro; um ardor na pele que sente e que não se deixa cobrir. Mas não pode sair assim, como esconder agora tamanha fragilidade... que cresce, cresce, só de pensar em passar sob o olhar de alguém com o medo denunciado em cada pedaço de si. Falta oxigénio a este ar, não chega todo aos pulmões - acelera coração - ai não, quieto. Bate só para que viva, não te rendas a emoções.

Dói quando sente. Dói quando se impede de sentir.
Hoje dói tão somente existir.

domingo, fevereiro 22, 2009

Há horas desertas,
Dias eternos
Que remexe tralhas,
Rebusca em infernos,
Vividos, perdidos
Em estilhaços de instantes,
Contra um torpor desmedido,
Um corpo exangue.

Há momentos a fio
Que assemelham Eras
Em que não se encontra,
Só uma falta impera.

Não se encontra no espelho
Por mais que se procure.
É quando arde um vazio
De um nada, tão frio,
Que já quase se rende
Para que o mal não perdure.

Mas a dúvida prende,
Nada cala esta fome.
Mas que pedaço falta?
Que busca é esta, sem nome?






PS: Obriguei-me, literalmente, a escrever. Daí o resultado.