terça-feira, abril 08, 2008

Seja qual for a paisagem,
O ponto mais fundo que o olhar alcança,
Há sempre uma rocha,
Uma pedra, uma areia que dança.

Tenha-se uma obra qualquer,
Escultura, vitral ou tela,
Que há-de ter sempre nela,
Um traço mais feio,
Uma cor mais escura,
Dura e crua.

Conte-se uma qualquer história,
De entre quantas este mundo tem,
Haveis de encontrar sempre uma lágrima,
Ou um olho que a retém.
Alegria ou martírio que escondam,
Raiva ou loucura que expressem,
Não há quem,
Por pouco que viva,
Não lhe sinta o sal que tem.

E é salgada esta lágrima,
Só por não saber ao que vem.
Que se soubesse, ora era doce,
Ora amarga de desdém.

Aqui está um molho de gente,
Multidão num qualquer lugar,
Vede com atenção,
Que vos diz aquele olhar?

A pedra turva ou aguçada,
A cor escura que esconde a alma,
A lágrima a que só o amargo sente
Os olhos de quem está ausente,
Em certos dias são constante,
Noutros, sombra passante,
Mas sempre parte do que ela é.

terça-feira, abril 01, 2008

Não me vesti de negro,
Quando o brilho me levaste,
Com o meu último fôlego,
Foi-se a força que criaste.
Acabaste.
E eu de olhos fechados,
Cerrados para não ver,
Que metade do meu viver,
Da história que queria escrever,
Eram rascunhos riscados,
Rasgados.

Vesti-me de cinzento,
Quando largámos as mãos.
Vesti-me da cor que não tem definição,
Sem ponta de agitação,
Com a calma de quem já esperava,
Que uma guerra longa e sofrida,
Mesmo quando vencida,
Já não deixa sentir nada.



Sem jeito. Mas já há muito, mesmo muito, que não me saiam sequer dois versos. Decidi pôr.