domingo, abril 11, 2010

O cair da máscara..

Suba ou não a cortina de veludo vermelho, a coreografia concretiza-se, desenrola-se já sem qualquer esforço, sem pensamento activo; cada passo uma sucessão óbvia do anterior. Não existem ensaios sob a luz dos holofotes em cenários diversos ou das frestas de luz que perfuram persianas de um quarto não reconhecido. As falas, há muito automatizadas, não provocam alvoroços e, não raras vezes, conquistam mesmo alguns esgares de simpatia.
Romper com esta rotina é hipótese que não chega, sequer, a fase de cogitação. Cruza o horizonte do surreal designar de vida um estado tão desprovido de vontade.

Um atrevimento, deixar uma página em branco e continuar a história com um novo traço, sujo mas firme; tímido mas cheio, assertivo.
Uma loucura dizer que o espectáculo chegou ao fim, que os palcos a pisar agora são outros.
Uma insolência provocar e arriscar arrancar interjeições de espanto, uivos de raiva, trovejar de portas e punhos cerrados.

Para quando deixar cair a máscara e respirar?

domingo, abril 04, 2010

Era preciso admitires que, finalmente, esbarraste na realidade. São incríveis os meandros em que te embrenhas com tanto brio para lhe escapares, enquanto o empenho te devia levar a esculpi-la a teu jeito.
Era preciso que tivesses vontade, que o amor próprio não tivesse caído tão fundo.
Era preciso não teres trancado a porta para depois esconder a chave do mundo.
Era preciso que visses - mas tu vês, não é? Já percebeste que esse refúgio é um castigo a que ninguém mais te entregou senão tu. Arromba essa porta, deixa que a luz te cegue, que o ar, novo, sem o peso de culpas, dúvidas, mágoas de quem faltou ao prometido, te sufoque o corpo. Sente o cheiro de uma essência renovada sem que outra seja renegada. E deixa-os entrar. Quem sabe não passa por essa porta quem te saiba ler o gesto? Quem te oiça as ânsias por detrás dos lábios cerrados? Quem te revele relíquias que nunca em ti sentiste?

Era preciso que fechasses os olhos e te deixasses levar.