terça-feira, fevereiro 24, 2009

Entra no quarto e enquanto fecha uma porta abre outra. Já que as paredes só têm ouvidos, dentro destas não há testemunhas para esta fraqueza. Esta que não perturba o silêncio que transborda deste quarto, só atinge sonoridades acutilantes na sua cabeça. As paredes têm apenas ouvidos e não olhos, pois se os tivessem denunciariam a incrível rapidez com que se despoja de uma pele que se cola com extraordinária perfeição àquele corpo. Não há ruga ou ponta mal acabada que a acuse de se mostrar quem não é.
Mira ao espelho a pele que sente, sua. Dá-lhe tempo para que respire do sufoco de mais um dia. E logo os poros desta pele, tão perfeitamente impedida de sentir, destilam o medo que outra pele camuflou. Começa então um cortejo, cadência lenta e marcada, de suspiros, delírios, apertos no peito e o que mais se permitir. Gritos abafados de uma falta de sentir.


Já não serve, esta pele. Puxa de um lado, um rasgo no outro; um ardor na pele que sente e que não se deixa cobrir. Mas não pode sair assim, como esconder agora tamanha fragilidade... que cresce, cresce, só de pensar em passar sob o olhar de alguém com o medo denunciado em cada pedaço de si. Falta oxigénio a este ar, não chega todo aos pulmões - acelera coração - ai não, quieto. Bate só para que viva, não te rendas a emoções.

Dói quando sente. Dói quando se impede de sentir.
Hoje dói tão somente existir.

3 comentários:

  1. Vejo-me tantas vezes nessa "pele"... Tenho de aprender a dizer "HOJE VOU-TE DESPIR" quando acordo e me vejo ao espelho.

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  2. vou despir-te... tão mais correcto

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  3. Pena as peles que impedem de sentir durarem tão pouco, aguentarem tão pouco todo o sentimento que com tanta força tentam esconder, mostrando o que se Quer sentir ... mas jamais o que se sente.

    "Hoje dói tão somente existir."

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