domingo, fevereiro 17, 2008

Farsas

Não sei bem o que vou dizer, se vou ter um discurso coerente. Vai escorrer, como escorre cada momento ou sensação ultimamente em mim. Sem quê nem para quê. Sem sequência. Acontecem, só.
Hoje acordei e soube que precisaria do dobro da força para me levantar. Que hoje o dia requeria coragem. Era preciso um sorriso. Então colei-me ao espelho e construi-o. Um sorriso e todo um teatro para que nada me saísse mal. Para que nao transparecesse o estremecimento, a tempestade e o dilúvio interior. Que hoje eu sabia decor o que me esperava. Tinha bem encenadas as máscaras para cada momento. Por cada sentimento, uma farsa. Insegurança, raiva, ciúme, desespero. Fui preparada. Tudo ensaiado e o sorriso pronto para mostrar logo que necessário.
Enganei-me, a princípio. Afinal a ameaça não era tanta. Afinal eu estava à altura do desafio. Afinal consegui rir-me com vontade. Tive-me como salva, pelo menos deste desafio. Gosto efémero.
Nao consigo. Sei o que valho, sei que sou mais. Mas nao sou eu que estou lá. Dói. Revolve-me as entranhas. E o pensamento, com previsões hipotéticas do que fez ou está para fazer.
Chorar? Nao consigo. Hoje nao. Acho que perdi a bomba do peito a caminho de casa e como doeu menos, pesou menos, nem dei conta. Vou ver se o encontro numa berma qualquer amanhã.


Quero um conto de fadas à minha porta. Depressa.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Quem espera ...

Num dia acredito, no seguinte não. Tal como tu : num dia prometes futuro, o mundo partilhado entre nós; no seguinte viras costas, levas esse mundo nos braços e dá-lo a outra pessoa, como se nada fosse. Não suporto. E não o vou esconder. Já contive demais as palavras com medo que as usasses contra mim, com medo que deitassem por terra a nossa derradeira oportunidade. Chega. Eu já errei, tu também. Não chegámos aqui a mando de apenas um. Mas errámos e acertámos ambos, temos as contas certas. O castigo que vier a partir de hoje é maldade e eu não quero marcar-te dessa forma.
Dizes agora que adoras a forma como te trato e eu digo-te a ti que foi assim que sempre te quis tratar. Tu sabes que sim, que dou por natureza, até demasiado. Não o fiz antes por medo, inseguranças. Cresci imenso contigo, voltei a ter a ingenuidade que tanto me fazia chorar, que tantas marcas me causou, mas de que eu tanto gostava. Quis voltar a dar-me a ti sem restrições, porque o medo já cá não morava. Mas tinhas de abrir o baú outra vez. Estava tão bem escondido, tão bem cerrado. E eu ainda não vejo as sombras a cirandar pelo quarto, mas já as sinto e quase que as ouço, rindo de mim, vão-me consumindo. Não sabes já o que custa fechá-las de novo? E tu pensas que sabes, e eu gostava que sim, mas não sabes ... que cada vez que viras costas a presença delas é maior, que elas me assustam, me esmagam, me fazem querer desistir. e que de cada vez que prometes, mesmo quando mostras mais certezas, elas te comem metade das palavras e não deixam que o sentido chegue a mim.
Não quero ser lembrança, boa ou má, quero ser vivência, presente e futura.
Sou paciente, sei esperar, respeito o difícil, a luta, a prova e o desafio. O que é certo faz-se esperar e é a conquista do que não temos, do que temos de provar merecer que nos torna felizes. É a natureza humana.
Eu luto, cada dia. Coloco mais peso sobre o baú a cada dia, cada dia mais coberto. Luto cada dia para dar alento a um coração que se toma já por condenado porque nunca lutou assim por outro alguém. Luto para ter razão para sorrir durante todo o dia e só à noite deixar que as sombras, os medos me arranquem dos olhos as lágrimas que guardei.
E quando penso nisso parece-me ridículo, parece-me injusto, parece-me que mereço mais. Que tu digas o que queres, faças o que precises para ter o sorriso na cara e o peito cheio enquanto eu me resigno, abaixo a cabeça e me escondo a ouvir as mesmas melodias uma vez, outra e outra ainda. Tenho medo do cansaço, do desgaste de um sentimento que tanto queria viver.
Esperar... mas não quieta, junto ao mar, que ele já me conhece as fraquezas e guarda todo o segredo.. e em frente a ele posso cair que sei que me devolve sempre à praia. Esperar, mas viva, com risos infantis, simplicidades, afectos sem pedir porquê. Esperar. Mas com nuvens de algodão sob os pés, flores emaranhadas nos caracóis, brilho verde nos olhos ... e um mundo simplesmente encantado dentro do coração, para um dia ganhar vida e se deixar viver por nós.
À espera.